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Compreender as emoções e a importância de buscar ajuda profissional foram os assuntos abordados em novo curso da Quinzena de Enfermagem do ISAC.
O profissional da Enfermagem também precisa de cuidados. Conhecer os próprios limites, aprender a lidar com o quadro clínico dos mais diversos pacientes e buscar ajuda profissional quando necessário são atitudes que ajudam a preservar a saúde mental e manter o equilíbrio emocional.
E para conversar sobre o assunto e trazer tranquilidade a esses profissionais, o ISAC – Instituto Saúde e Cidadania promoveu o curso on-line “Saúde mental: como lidar com as suas emoções?”, conduzido pela psicóloga clínica Keiliany Sousa e com a participação dos profissionais de Enfermagem da UPA – Unidade de Pronto Atendimento San Martin, em Salvador (BA).
O curso on-line faz parte da programação da “Quinzena da Enfermagem: eu me cuido para cuidar”, realizada pelo ISAC, de 11 a 26 de maio, em todo o país, em reconhecimento e homenagem a esses profissionais da Saúde que dedicam suas vidas para cuidar de outras pessoas.
Usando conceitos e exemplos, Keiliany Sousa explicou o que são e como distinguir os sentimentos e as emoções para as lideranças do instituto, enfermeiros e técnicos de Enfermagem que atuam nas unidades gerenciadas pelo ISAC nos Estados de Alagoas, Bahia, Goiás e Tocantins, além da sede no Distrito Federal, e enfatizou a importância de fazer algum acompanhamento e buscar ajuda profissional antes que a rotina do trabalho prejudique e afete outras áreas da vida dos profissionais.
O que é emoção?
De acordo com Keiliany Sousa, existe uma linha tênue entre o que é sentimento e o que é emoção, e como a razão pode ajudar a nortear esses estados. “Quando eu falo de sentimento, falo daquilo que eu estou sentindo. Quando eu falo de emoção, falo daquilo que eu estou expressando no momento”, explica a psicóloga.
Compreender essa diferença ajuda a entender o porquê, em determinadas situações, pode-se estar sentindo algo, mas expressando outra coisa totalmente diferente, como estar sentindo raiva, porém expressando outra emoção que seja mais adequada para aquele momento e meio social.
Nessa etapa da apresentação, Keiliany Sousa trouxe os principais fundamentos que ajudaram a construir a compreensão atual sobre as emoções.
Charles Darwin, naturalista inglês que publicou o revolucionário “A Origem das Espécies”, em 1859, e difundiu a teoria do evolucionismo, sacudiu o mundo novamente ao lançar “A Expressão das Emoções nos Homens e nos Animais”, em 1872, um estudo inédito sobre as emoções humanas, onde as considerou como herdadas e repassadas através de gerações pelos genes dos nossos antepassados.
Já o fisiologista estadunidense William James, em sua obra “Princípios de Psicologia”, de 1890, apresentava uma abordagem que invertia o consenso da época, considerando a emoção como uma resposta aos estímulos psíquicos e excitações fisiológicas das pessoas, o que foi eternizado na frase “alguém está triste porque chora, e não chora porque está triste”.
No século XX, a antropóloga estadunidense Margaret Mead dedicou sua vida ao estudo das relações entre cultura e personalidade, e desenvolveu a teoria de que é a cultura que molda a personalidade das pessoas e, consequentemente, as suas emoções, contrariando Darwin e James.
Conceitos bem diferentes do que foi elaborado pelo filósofo grego estóico Epicteto, que, na Antiguidade, atribuía a cada indivíduo a responsabilidade em compreender e interpretar as situações e circunstâncias ao seu redor, e decidir o que fazer com o que se sente e com as próprias emoções, independentemente se poderia controlar o resultado das suas ações e das outras pessoas.
Por que fazer terapia?
Após explicar as linhas de pensamento e as abordagens psicodinâmica, cognitiva, comportamentalista e centrada na pessoa formuladas por aqueles pensadores, Keiliany Sousa perguntou aos participantes o que eles achavam que era a vida adulta e como é a vida adulta. As respostas foram diversas, mas ter “responsabilidades” e “boletos para pagar” estavam presentes em todas elas.
A intenção da psicóloga era justamente demonstrar como uma mesma pergunta poderia gerar interpretações distintas. “As emoções são particulares e singulares. Pensamos e sentimos de forma totalmente diferente, mesmo que tenhamos questões em comum, como um boleto para pagar no fim do mês”, pontua.
Nesse contexto, Keiliany Sousa abordou também sobre o papel do sofrimento no aprendizado e amadurecimento, e sobre como lidar com a tristeza para que não evolua para uma depressão.
“Às vezes, cuidar do outro acaba fazendo com que o profissional da saúde esqueça de cuidar de si”, alerta a psicóloga. “Muitos têm preconceito e sentem dificuldade em notar e assumir suas fragilidades. Também não buscam atendimento psicológico nem psiquiátrico e acabam se automedicando”, conclui Keiliany Sousa.
Para a psicóloga, não existe “receita de bolo” para controlar as emoções, mas é possível se conhecer para aprender a administrá-las. “Quando você entende como se sente nas mais variadas situações fica mais fácil lidar com aquele ambiente”, acrescenta Keiliany Sousa. “O seu colega também passa por momentos difíceis. Todo mundo está tentando construir alguma coisa. É pelo sofrimento que conseguimos lidar com algumas questões da vida e conseguimos crescer, amadurecer”, diz.
E por fim, o custo do cuidado é menor que o custo do reparo, destaca a psicóloga. “Falar das emoções não é fácil porque nos colocamos em posição de fragilidade. Muitos podem pensar que isso nos deixa mais vulnerável, mas é o contrário. Falar sobre o que machuca e faz sofrer é justamente o que pode nos ajudar a se fortalecer no dia a dia”, conclui Keiliany Sousa.
Programação
A Quinzena da Enfermagem do ISAC foi uma programação de 11 a 26 de maio, com transmissões ao vivo e on-line pelo Google Meet e no canal oficial do instituto no YouTube. Foi também uma homenagem aos profissionais e é alusivo ao Dia do Enfermeiro, comemorado no dia 12 de maio, e ao Dia do Técnico de Enfermagem, no dia 20 de maio.
Confira outros eventos:
– Abertura oficial: Vivência sobre como é atuar na Enfermagem: as nossas experiências. Facilitadoras: Ana Negreiros, gestora de Comunicação e Experiência do Usuário no ISAC, e Ruama Caetano, psicóloga e gerente de Recursos Humanos no ISAC pela Genesis Gente e Gestão
– Como a prática da autorresponsabilidade contribui para o seu bem-estar? Facilitadoras: Lorena Rodrigues, gestora de Gestão de Pessoas no ISAC e CEO da Genesis Gente e Gestão, e Ruama Caetano, psicóloga e gerente de Recursos Humanos no ISAC pela Genesis Gente e Gestão
– Como garantir a privacidade e confidencialidade de dados na prática da Enfermagem? Facilitador: José Carlos Deotti, DPO do ISAC
– Como a Enfermagem contribui para um ambiente seguro livre de infecções? Facilitadora: Nara Fernanda, supervisora de SCIRAS no ISAC e presidente do Comitê de Biossegurança
– Saúde mental: como lidar com as suas emoções? Facilitadora: Keiliany Kellen de Jesus Sousa, psicóloga clínica
– Liderança e gestão em Enfermagem: como os enfermeiros podem se tornar líderes eficazes e influenciar a tomada de decisões no setor de saúde. Facilitadora: Dra. Ivanete Prestes Roberti, diretora assistencial e consultora em Saúde